CEOs das top20 editoras do Ranking Anual do PN fazem suas previsões para 2025
PublishNews, Talita Facchini, 21/01/2025
Representantes das editoras com mais títulos na lista compartilham suas visões sobre o mercado editorial brasileiro, falam sobre tendências e comentam sobre mudanças significativas no setor nos últimos anos

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Editores compartilham suas visões sobre o mercado editorial brasileiro, falam sobre tendências e comentam sobre mudanças significativas no setor nos últimos anos | © Taylor / Unsplash
Editores compartilham suas visões sobre o mercado editorial brasileiro, falam sobre tendências e comentam sobre mudanças significativas no setor nos últimos anos | © Taylor / Unsplash

Em mais uma edição de sua reportagem especial de início de ano, o PublishNews convidou CEOs e representantes das 20 primeiras editoras presentes no Ranking Anual de 2024 para saber suas visões sobre o mercado editorial brasileiro. Que previsões eles fazem para o ano que se inicia? Quais tendências acreditam que podem crescer e se destacar durante o ano? E enxergam alguma significativa no mercado nos últimos anos? Entre as respostas, o que prevalece é o tom otimista entre os executivos, mas com ressalvas e preocupações.

A variação do câmbio e o preço do papel, o movimento e mudança no formato das livrarias físicas, o crescimento do e-commerce, a adoção de práticas sustentáveis, a aplicação da inteligência artificial no dia a dia e a valorização dos autores nacionais também foram temas citados pelos profissionais.

A importância dos eventos literários e a expectativa para a Bienal do Livro Rio no ano que o Rio de Janeiro é a Capital Mundial do Livro também merecem destaque.

Além disso, eles adiantaram lançamentos que suas editoras preparam ao longo do ano, e destacaram algumas tendências na publicação de alguns gêneros: consolidação do romance, crescimento do healing fiction e ficção cristã e a volta dos livros de colorir.

Confira:

Rosely Boschini - Gente

Em 2025, eu vejo que o setor editorial brasileiro continuará discutindo como incorporar novas tecnologias de maneira ética, especialmente com o avanço das ferramentas de inteligência artificial, e usando esses recursos para de fato ganharmos mais eficiência e produtividade, sempre defendendo o direito à propriedade intelectual.

Na Editora Gente, por exemplo, a IA trouxe ferramentas ótimas para os setores istrativo, comercial e marketing. Acredito também que vamos evoluir muito em termos de estratégia e uso de inteligência de dados para entender melhor as mudanças no comportamento dos leitores. As vendas por canais digitais continuarão se consolidando como a principal fonte de faturamento, o que traz dois desafios para todos nós:

- Transformar espaços físicos em plataformas de experiência: livrarias e eventos precisam oferecer conexões cada vez mais significativas e memoráveis para os leitores.
- Aprimorar habilidades no digital: editoras, livreiros, autores, profissionais do livro, todos precisarão investir em novas competências para explorar melhor o modelo “figital”, que integra o físico e o digital.

Fenômenos como Bookstagram e BookTok continuarão ganhando força, então precisamos participar ativamente desses espaços. Essa interação digital abre oportunidades únicas para amplificar o alcance dos livros e conectar o mundo do livro com os potenciais leitores de forma mais dinâmica e personalizada.

Não só pelo crescimento da Editora Gente nos últimos anos, mas também acompanhando as iniciativas de outros pares, eu estou muito otimista com os resultados dos autores nacionais, de maneira especial autores de livros de não-ficção. Os autores estão ganhando um baita protagonismo e, por exemplo, o crescimento dos podcasts, dos newsletters, têm sido fatores relevantes, trazendo visibilidade para autores e permitindo que suas ideias alcancem novos públicos, o que cria um ciclo virtuoso entre conteúdo, audiência e, consequentemente, as vendas.

Enxergo também uma grande possibilidade de internacionalização de nossos títulos e autores.

Sobre mudanças significativas no mercado nos últimos anos: Há muito tempo venho falando sobre a importância de os autores terem uma visão de carreira e negócio ao publicar seus livros. Nos últimos anos, isso deixou de ser apenas uma recomendação e se tornou essencial. As redes sociais, os canais digitais e, mais recentemente, a inteligência artificial, deram aos autores um papel ainda mais ativo na conexão com seus leitores.

Hoje, os autores conseguem interagir com sua audiência de forma mais próxima e segmentada, utilizando recursos tecnológicos para construir relações mais profundas, que ampliam e potencializam sua mensagem. Nesse cenário, o papel dos profissionais do livro é fundamental. Editores, livreiros e comunicadores aram a ter uma colaboração mais intensa e dinâmica – e isso vai continuar se desenvolvendo – para oferecermos juntos e estratégico, expertise operacional e visão criativa para que a publicação e o lançamento dos livros aconteçam de forma sincronizada e eficiente.

Há também a força dos órgãos governamentais para o avanço de políticas públicas para o setor editorial, como incentivo de programas de leitura, bibliotecas e os lindos eventos literários que têm ganhado mais destaque nas mídias e acontecido em mais estados do Brasil.

Por fim, eu acredito que o mercado editorial tem buscado maior eficiência em toda a cadeia produtiva do livro. Desde o planejamento de impressão e distribuição até a realização de eventos e parcerias, o foco tem sido otimizar processos para atender melhor às demandas do público e criar negócios mais prósperos e longevos, pois sabemos o tamanho do desafio que temos ao trabalhar com a leitura.

Marcos da Veiga Pereira - Sextante

Acredito que 2025 será um ano positivo para o setor livreiro. As informações dos resultados de 2024 que recebemos das principais redes apontam crescimento em valor e um leve aumento em volume, além da chegada de um novo player no varejo online. A principal preocupação agora é com o câmbio, que afeta diretamente o nosso principal insumo, o papel, e acaba pressionando os preços mais uma vez.

Sobre tendências: Em Não Ficção, saúde permanece como uma área de destaque na Sextante, com uma grande contratação já no primeiro semestre: Energia sem limites, de Casey Means. Biografias também terão espaço relevante entre os lançamentos, com As decisões do coração estão sempre certas, de Fernando Meligeni, e John, Yoko e Eu, de Elliot Mintz. No segundo semestre lançaremos Greenlights, de Matthew McConaughey e um livro inédito de Sylvester Stallone.

No segmento infantil, seguimos fortalecendo o catálogo com projetos inéditos de autores nacionais e dando sequência às coleções desenvolvidas em parceria com o Manual do Mundo. Na área de desenvolvimento pessoal e negócios, destacaria A sabedoria de Charlie Munger e Marketing 6.0, de Philip Kotler. Na Ficção, os lançamentos da Arqueiro priorizam a ficção de cura e as tendências do TikTok, além de obras importantes como a série fenômeno editorial Blackwater, de Michael McDowell.

Destacaria alguma mudança significativa do mercado nos últimos anos?

Acho que a maior mudança foi o formato das livrarias, que diminuíram o espaço e, portanto, seus acervos, o que me parece uma medida acertada para “fechar os custos”, mas que cria um desafio para uma indústria que lança 8 mil títulos novos a cada ano. O varejo online ocupou metade do volume de vendas, número que me parece de equilíbrio, e se caracteriza por grande sazonalidade de eventos promocionais (Dia do Consumidor, Black Friday e datas especiais como Prime Day).

Nossa esperança é que o digital (e-book e áudio) cresça com mais vigor nos próximos anos, principalmente o audiolivro, que pode ser uma porta de entrada importante para novos leitores.

Alessandra Ksenhuck - Literare Books International

Em 2025, acredito que o setor editorial estará em uma fase decisiva, buscando estimular a leitura e consequentemente conquistar novos leitores. O caminho para isso ará pela combinação de inovação tecnológica e um entendimento profundo das novas tendências de consumo. Além disso, as editoras precisarão estar atentas às demandas contemporâneas, investindo em obras que dialoguem com temas como diversidade, sustentabilidade e novas perspectivas culturais, o que será essencial para atrair tanto leitores tradicionais quanto novas gerações. Outro ponto crucial é em relação à aplicação da inteligência artificial no setor. Este ano será o momento de abraçar esse pensamento disruptivo, utilizando a tecnologia como um meio de alcançar eficiência e inovação. Mais do que adotar novas tecnologias, será necessário reinventar a forma como nos conectamos com nossos leitores e nos posicionamos em um mercado em constante transformação.

Estamos otimistas com o mercado editorial em 2025. A Bienal do Livro de São Paulo do ano ado se revelou um verdadeiro termômetro para entender as preferências do nosso público e identificar suas principais demandas. Assim, percebemos que os livros de Não Ficção voltaram a ocupar um espaço significativo tanto nas listas de mais vendidos quanto no interesse dos leitores. Nossa grande aposta para este ano está em temas que dialogam diretamente com as necessidades e interesses da sociedade, como saúde, parentalidade e autismo, e acreditamos que continuarão a crescer em relevância. Aqui na Literare seguiremos explorando esses temas, assim como ESG, negócios, diversidade, empoderamento feminino, empreendedorismo, gestão e inteligência artificial.

O mercado editorial e suas tendências estão em um estado de fluxo, impulsionado por novas tecnologias, mudanças nos hábitos dos leitores e estímulo à inclusão. Para autores e editoras, manter-se informados sobre essas tendências é essencial para o sucesso em um mercado competitivo como este.

Otávio Marques da Costa, diretor editorial - Companhia das Letras

Suspeito que 2025 será um grande ano para narradoras e narradores brasileiros, como os últimos têm sido. É palpável o amadurecimento de um leitorado vibrante, em especial de ficção nacional, em resposta a uma produção igualmente madura, diversa e interessante. Isso se manifesta não somente em números de vendas e na quantidade expressiva de verdadeiros best-sellers mas também nos “espaços” onde a literatura brasileira se faz presente e circula, a exemplo dos clubes de leitura (e festivais, e bienais etc).

No fim do ano ado, o mercado se abateu com os tristes resultados da sexta edição da pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, indicando um declínio no número de leitores em nosso país. A “foto” é mesmo triste, mas escolho enxergar uma centelha de esperança a partir da constatação sobre o interesse renovado em ficção nacional, que faço acima. Além disso, e já apontando para uma segunda aposta/tendência, creio que a sociedade está muito consciente de um dos grandes “inimigos” da leitura no tempo presente, que é o roubo da atenção e do tempo provocado pela concorrência digital e pela adição por celulares e devices... E isso – a consciência do problema – ao menos é um alento, pois nada como o fomento à leitura para restaurar a capacidade de concentração e introspecção que tanto nos falta. Melhor ainda se esse incentivo vier por bons livros de parenting sobre o assunto! Ainda uma decorrência dessa discussão, imagino, prosseguirá sendo a busca por livros sobre concentração, gestão do tempo, o valor do tempo, os malefícios da hiperconexão etc.

Na Não Ficção, é possível ainda que a urgência ambiental e climática e, mais perto de nós, a questão da Amazônia, finalmente se tornem motivo de interesse mais amplo em 2025.

Ainda sobre tendências, me parece que tempos ásperos, que de muitos modos se anunciam, podem, por um lado, seguir levando à busca por uma ficção escapista (sem nenhum juízo de valor aqui, ao contrário!), como a healing fiction e os romaces românticos (“romance”), e, por outro, a uma retomada gradual de livros com temática propriamente política, a ver em qual direção.

J.A. Ruggeri - Alta Books

Este ano não deve ser diferente em relação ao anterior em termos de desafios e oportunidades. Acredito que cinco pontos precisam estar no radar de todos os editores:

1. Uso de inteligência artificial e big data: Ferramentas de IA podem ser usadas para analisar preferências dos leitores, prever tendências de mercado e até auxiliar no processo criativo, entre muitas outras funções ora simples ora complexas.
2. Crescimento na produção e venda de livros digitais e audiolivros: O mercado de e-books e audiolivros deve continuar crescendo, impulsionado pelo aumento do uso de dispositivos móveis e plataformas de leitura digital.
3. Valorização de conteúdos nacionais e regionais: O público brasileiro tem demonstrado maior interesse por autores locais e obras que refletem a diversidade cultural do país numa literatura representativa com diferentes narrativas, etnias e gêneros. É a redescoberta da gênese brasileira em nova antropofagia cultural.
4. Adoção de práticas sustentáveis: A sustentabilidade tende a se manter como uma preocupação crescente, com editoras buscando formas de reduzir o impacto ambiental na produção de livros sem perder a eficiência, a eficácia e os objetivos do negócio.
5. Desafios econômicos e estruturais: O setor seguirá enfrentando obstáculos como a alta nos preços dos livros e a fuga de leitores (vide últimas pesquisas), buscando estratégias para garantir ibilidade e atratividade do produto. Seguiremos com o enorme desafio pela busca do equilíbrio entre margem e propósito.

Sobre tendências, vejo duas frentes importantes aqui:

A expansão de modelos híbridos: O setor editorial começa, cada vez mais, a adotar estratégias híbridas, combinando livros físicos e digitais, por exemplo, para diversificar receitas e atender a diferentes públicos. Livros interativos com realidade aumentada são outro bom exemplo. O desafio é escalar para fechar a conta.

Expansão do formato "romance seriado" (serialized fiction): Na última Feira de Frankfurt, notei muitos insights referentes a esse formato. A demanda por leituras rápidas e íveis em dispositivos móveis está em alta. Plataformas como Wattpad e Radish têm popularizado a publicação de histórias em capítulos, o que pode ser explorado por editoras tradicionais. O nicho chamado Healing fiction também permanece relevante.

E sobre mudanças nos últimos anos, de tempos em tempos, surgem algumas inovações incrementais, mas nenhuma disruptiva. Enxergo uma mudança que é lenta, mas contínua no que diz respeito aos canais de comercialização e a própria venda de livros. Há uma preocupação maior hoje em granular a venda, evitando a superconcentração ora deste ora daquele canal. Disso resulta a busca por ganhos até então marginais, como fracionados, bibliotecas digitais, entre outros.

A tendência é que esse movimento siga crescendo, à medida que canais tradicionais têm seus espaços cada vez mais racionalizados e escassos. O crescimento do consumo de audiolivros e podcasts literários, observados em muitos mercados mais maduros ou mesmo no Brasil, aliado à popularização de plataformas como Spotify e Audible, pode ser um indício dessa constatação.

Sônia Machado Jardim - Grupo Editorial Record

Acredito que o mercado deve ter um crescimento em linha com o aumento do PIB. Mas as margens ficarão mais apertadas em função do aumento do dólar, que impacta não só adiantamentos de direitos autorais como demais insumos dos livros. O setor vai precisar buscar aumentos de produtividade para minimizar essa perda de margem.

Acho que a Não Ficção deve voltar a crescer, impressionante os números dos livros devocionais. Mas temos alguns lançamentos na Ficção muito fortes para 2025.

O crescimento das vendas online ocorrido nos últimos anos mudou significativamente a forma de se divulgar e vender livro. Percebemos a necessidade de interagir com o leitor, isso demandou a criação de uma estrutura maior, com uma linguagem adequada, para trabalharmos o marketing do livro.

Martina Limoni (diretora de marketing) – Panini

Nós da Panini temos uma visão otimista para o setor editorial brasileiro em 2025 e acreditamos que ele está em um momento de grande potencial de crescimento. Planejamos continuar ampliando nosso catálogo de publicações, atendendo a diferentes públicos e interesses. Entre as nossas frentes de destaque estão os mangás que continuam em alta e conquistando novos leitores, os títulos da Turma da Mônica que seguem inovando e trazendo histórias que conectam gerações e os quadrinhos de heróis que permanecem como um dos pilares do mercado e tem um público fiel que busca tanto edições clássicas quanto lançamentos inéditos. Nosso objetivo é oferecer uma diversidade de produtos, desde edições mais para os colecionadores até materiais que introduzam novos leitores ao mundo dos quadrinhos.

Sobre tendências: Nos últimos anos os mangás tem conquistado cada vez mais espaço, tanto no Brasil quanto no cenário global, tornando-se uma das categorias mais populares do mercado editorial. Para esse ano, acredito que essa tendência continuará em alta, com o segmento se fortalecendo e se solidificando ainda mais, impulsionado por uma variedade de títulos e temas.

Mudanças no mercado nos últimos anos: A principal mudança no mercado nos últimos anos é o varejo, cada vez mais forte no ambiente digital, o que exige que as editoras se adaptem e desenvolvam estratégias eficazes para se destacar nesse cenário. Além disso, outra tendência que temos observado é a valorização de espaços físicos especializados, como os Panini Points, que se tornaram uma aposta importante para nós. Esses pontos de venda oferecem uma experiência diferenciada ao consumidor. Essa combinação entre o digital e o físico reflete o novo panorama do varejo editorial.

Felipe Brandão - Planeta

Acredito que o fenômeno da romantasia tem tudo para crescer ainda mais em 2025. Esse gênero, que combina romance romântico com elementos de fantasia, tem conquistado uma crescente base de fãs nos últimos tempos. Um exemplo claro desse sucesso é Rebecca Yarros, autora do fenômeno Quarta Asa, que alcançou o posto de número 1 na lista do New York Times. A popularidade desse estilo indica que ele continuará a ganhar destaque no próximo ano.

Embora os resultados da pesquisa Retratos da Leitura revelem desafios contínuos no setor editorial brasileiro, é possível ser otimista em relação ao futuro, especialmente considerando alguns movimentos positivos que já estão sendo observados e as tendências que podem se fortalecer em 2025, como o crescimento das redes de livrarias, o surgimento de livrarias especializadas, a leitura digital em expansão, inovações no marketing editorial e vendas online, diversificação de conteúdos e gêneros literários, valorização de autores brasileiros, dentre outros.

Nos últimos anos, uma mudança significativa que tenho observado é a valorização dos autores nacionais, especialmente no segmento infantojuvenil. Obras como As Aventuras de Mike, de Gabriel Dearo e Manu Digilio (com mais de 1 milhão de livros vendidos), e O Diário de uma Princesa Desastrada, de Maidy Lacerda, refletem essa tendência, com histórias envolventes que conectam os jovens leitores. Esse movimento tem fortalecido a literatura nacional e ampliado o o dos leitores a narrativas mais próximas de sua realidade.

© Vanessa Oliveira
© Vanessa Oliveira
Rebeca Bolite (editora executiva) – Intrínseca

Tivemos a maior Bienal da história e boa diversidade de gêneros na lista de mais vendidos. Apesar das pesquisas desoladoras de que temos lido menos, e das incertezas com relação à economia, o mercado seguirá se inventando e se reinventando, para não só "competir" com as telas, mas caminhar ao lado delas. Estamos entusiasmados com a Bienal no Rio de Janeiro, que conquistou o título de Capital Mundial do Livro de 2025.

Tendências: Após um excelente ano em que vimos os livros em formato de diário, ficções de cura, sobretudo asiáticas, e romances jovens brilharem, estamos entusiasmados com 2025. Acreditamos bastante na consolidação da ficção, especialmente do romance — não só jovem, mas também os voltados para público mais adulto —, na literatura asiática, que felizmente tem conseguido o espaço que merece no país, e nos livros que focam no bem-estar, tanto físico quanto mental e espiritual.

Mudanças no mercado nos últimos anos: A popularização dos streamings, as redes sociais, os smartfones e demais telas significaram certamente uma mudança no comportamento de consumo de cultura nas últimas duas décadas, não só no Brasil, mas no mundo. E não só o mercado editorial foi e é impactado, como também a indústria do cinema. Apesar de as mudanças serem mais velozes atualmente, elas vão sempre existir, e nenhuma é intrinsecamente boa ou ruim. O importante é compreendê-las. Nesse sentido acredito muito na potência da cultura e do mercado de cultura no Brasil, vide o sucesso de Ainda estou aqui, tanto no cinema quanto nas livrarias.

André Fonseca - Citadel

O cenário do mercado editorial é desafiador – como sempre –, principalmente se pensarmos em nossa taxa de leitura, da qual tanto falamos no fim de 2024, mas alguns outros indicadores podem nos dar motivação e esperança. Eu que costumo ser otimista, acredito em um crescimento do mercado neste ano por dois fatores principais: o aumento de leitores jovens – isso foi provado nas pesquisas mais recentes do mercado – e por uma consolidação de livrarias. Explico esse segundo: nós ainda tínhamos até o ano ado restos mortais de prejuízos e buracos deixados em nossa cadeia de varejo por parte de duas grandes redes livreiras que faliram. Agora, 2025 deve ser provavelmente o primeiro ano com um mercado consolidado depois destes tristes acontecimentos.

O momento econômico do país não é favorável, mas isso também não é novidade para nós. Já vencemos desafios maiores e seguiremos aqui, fazendo leitores e criando conteúdos acima de qualquer coisa. Por outro lado, novas tendências têm aquecido as vendas. Eu conheço a força dos livros religiosos desde o início de minha carreira, mas no último ano ela se mostrou com uma maior intensidade. Furou a bolha, e isso é maravilhoso. Acredito em uma permanência deste gênero nas listas de mais vendidos, gerando alto impacto nas vendas do mercado como um todo. Também enxergo um espaço importante para as ficções, em suas diversas subcategorias, tendo como público-alvo aqueles leitores jovens citados lá no início. Eles fazem a diferença hoje e, se trabalharmos certo, eles serão os leitores do futuro capazes de mudar as estatísticas atuais.

Leonora Monnerat, diretora-executiva do Grupo HarperCollins Brasil

Embora o cenário possa ser desafiador, é essencial lembrar que essas mudanças podem abrir portas para distintos modos de engajar com o público. Neste ano, o Rio de Janeiro será a Capital Mundial do Livro. Além de ser uma oportunidade para promover a leitura, envolver mais leitores e trazer visibilidade para o mercado editorial brasileiro, teremos uma Bienal do Livro histórica, com ativações inéditas e uma forma de se comunicar com o leitor totalmente inovadora. Estamos muito animados para participar dessa edição que será uma grande celebração. 2025 também marca a celebração de dez anos da HarperCollins no Brasil, estamos preparando muitos eventos ao redor do país, lançamentos muito especiais e acabamos de lançar um novo selo voltado para o leitor de negócios, a Harper Business.

Sobre tendências, a primeira é a popularidade crescente dos livros de colorir, que já foi vista no ado e voltou de uma forma diferente. Agora, esses livros pertencem a marcas famosas, que são uma chancela para o público jovem. A HarperCollins Brasil comprou os direitos dos livros de colorir das duas marcas mais importantes do seguimento, que são a Coco Wyo e Bobbie Goods. Já lançamos alguns desses livros e temos outros previstos para os próximos meses.

Além disso, notamos o crescimento histórico do romance, o que reflete na expansão da Harlequin e o aumento nas vendas dos títulos do selo e nas redes sociais, por exemplo. Um destaque dentro dessa categoria é a ficção cristã, que já é um nicho popular entre os leitores, e esperamos que cresça ainda mais nos próximos meses.

Nos últimos anos, temos visto uma grande variedade de livros disponíveis para todos os públicos, desde os mais econômicos até produtos de luxo como colecionáveis e presenteáveis, do físico impresso até o digital com áudio e e-book, o que faz parte da democratização do o à literatura. Quando as editoras oferecem produtos tão diversos, elas contribuem para que o mercado fique mais dinâmico e para que todos os leitores sejam atendidos de alguma forma.

Editora Vida - Até o fechamento da edição, não enviou as respostas.

Paulo Rocco – Rocco

O mercado editorial brasileiro tem demonstrado novidades recentes com a volta do crescimento das redes físicas e a sua bem-vinda expansão, além do aumento do número de pequenas livrarias independentes, movimentos que devem continuar. Os eventos, tais como Bienais e festas literárias, seguem atraindo um grande público, especialmente jovem, o que é muito positivo. Os recentes números demonstram um pequeno crescimento do mercado que deve continuar em 2025, que é o ano do nosso cinquentenário, marca 25 anos do lançamento no Brasil de Harry Potter e a Pedra Filosofal e traz o novo livro da série Jogos Vorazes.

O mercado tem se fixado em vários títulos de um mesmo autor e não especificamente em títulos isolados. A tendência da aposta em obras para o público jovem continuará, bem como naquelas que ajudam no desenvolvimento profissional e pessoal, incluindo aí os livros cristãos, que a Rocco ará a publicar a partir de março.

Na área de varejo, o mercado mudou muito nos últimos anos, com alterações significativas com relação aos grandes players. Houve o fechamento de grandes cadeias de livrarias e importantes distribuidoras, além da redução significativa dos negócios com a Americanas. Por outro lado, outras redes cresceram, assim como a Amazon, e há novos entrantes, como o Mercado Livre. Importante também destacar o surgimento de muitas novas editoras com propostas bastante diversificadas.

Somos - Até o fechamento da edição, não enviou as respostas.

Anderson Cavalcante – Buzz

Eu vejo que cada vez mais ter um foco na experiência do leitor e comunidades online seja um diferencial. As editoras vão investir em um engajamento direto com leitores através de eventos físicos ou virtuais, clube de livros e redes sociais. O objetivo será cada vez mais construir comunidades em torno de gêneros ou autores para fortalecer a lealdade do leitor. Teremos também o crescimento de plataformas de e streaming para livros onde com uma mensal o leitor terá o uma vasta biblioteca.

Sobre tendências, a Inteligência Artificial estará ainda mais presente nas editoras possibilitando otimização de tempo dos leitores que buscam conteúdos específicos. Sim, plataforma com poder de síntese na busca de leitores sobre assuntos ou temas de interesse específico.

E sobre mudanças significativas nos últimos anos, cito o crescimento dos e-books e audiolivros. Os audiolivros, por exemplo, têm mostrado um crescimento significativo nos últimos anos no mundo, alguns estudos projetam um crescimento global de 25% ao ano nos próximos 7 anos. Como somos o país que mais ouve podcast, penso que vamos ter cada vez mais leitores migrando para o audiolivro.

Mauro Palermo – Globo Livros

O sentimento é de otimismo, crescimento sobre 2024, promovido pela multiplicação e fortalecimento dos grandes eventos literários, pela influência positiva das mídias sociais e pelo aumento da bibliodiversidade. O e-commerce continuará sendo responsável pelos picos de vendas, mas as livrarias fortalecer-se-ão graças à fidelidade da clientela e organização de eventos. A literatura nacional continuará a ter destaque nas listas dos mais vendidos.

Estamos observando um período curioso em relação às tendências de mercado. Se de um lado temos o sucesso dos títulos cristãos, pelo outro lado assistimos a uma busca crescente por títulos com um teor mais sombrio e pesado, como o true crime, o terror, o dark romance e thrillers violentos. Ficção juvenil e obras de autoajuda continuarão com força. Ainda no campo da ficção, os thrillers asiáticos virão com tudo, assim como romances com carga sexual.

Mudanças nos últimos anos: O consumidor cada vez mais decide no digital, compra no digital, mas ainda consome o impresso. Assim, as grandes mudanças foram a influência cada vez mais significativa das redes sociais na decisão do que comprar e o e-commerce como canal preferido para dois terços dos leitores que, por sua vez, estão aprendendo a aguardar as grandes promoções para abastecer suas estantes.

Ciranda Cultural - Até o fechamento da edição, não enviou as respostas.

Leandro Sarmatz (editor) – Todavia

A Retratos da Leitura desalentou bastante. Ao mesmo tempo – e querendo ver o copo cheio, pois sem esperança não há edição! –, há um espaço ainda grande para o mercado crescer. Mas isso significa (em termos gerais pro mercado) pensar em novas maneiras de fazer o livro chegar aos leitores, investir na infância e nos anos iniciais da vida escolar, trazer o livro pras conversas cotidianas, pros memes: tratar o livro com naturalidade, intimidade, dessacralizando-o. Não é simples, mas também não é impossível.

Acho que o quadro histórico tem cada vez mais influência na configuração das tendências. Por causa da conjuntura internacional, e também porque teremos eleições logo ali, em 2026, vamos continuar lendo no campo não ficção obras que discutem democracia, autoritarismo, polarização política, identidade, entre outros temas relevantes do nosso tempo. E a ficção brasileira vai seguir demonstrando toda sua inesgotável vitalidade, como tem feito nos últimos anos.

Sobre as mudanças significativas nos últimos anos: Graças ao maciço ingresso na universidade promovido por políticas públicas nos últimos 20 anos, toda uma nova geração de leitores muito bem-informada exige cada vez mais diversidade – não somente no que diz respeito aos temas, mas em relação aos próprios autores e ao tratamento literário de questões fulcrais da nossa identidade cultural. É um Brasil maior e mais plural que vemos cada vez mais nos livros. Isso vai continuar porque é mesmo plural a cultura brasileira.

Ediouro - Até o fechamento da edição, não enviou as respostas.

© Elisangela Borges
© Elisangela Borges
Diego Drumond – Faro Editorial

Vejo com apreensão as quantidades totais de livros vendidos no varejo, que não crescem há pelo menos dois anos, assim como as compras governamentais, que ainda não tomaram o devido vigor. Acredito que o desempenho de vendas das editoras dependerá mais da capacidade de cada uma em lançar, comunicar, promover e distribuir seus livros do que da economia, que influencia fortemente os custos do mercado, o poder de compra dos consumidores e as políticas públicas de promoção da leitura.

O mercado deve continuar a valorizar fortemente obras de não ficção que proporcionam uma compreensão mais profunda do país, além de buscar também títulos que ofereçam inspiração, consolo ou diversão, aliviando as tensões da vida cotidiana. Neste ano, nossas principais apostas incluem o novo livro de Leslie Wolfe, autora do best-seller A cirurgiã – O hospital, e também o lançamento do brasileiro Cesar Vitale, cujo livro que deu origem ao sucesso da Netflix nos EUA, Girl Hunts Boy, deve estrear no Brasil no primeiro semestre.

A mudança mais marcante e com mais graves consequências ao mercado é o constante crescimento do e-commerce, que está sufocando as livrarias físicas, com resultados já visíveis na capacidade do mercado de lançar mais livros, torná-los conhecidos do público, introduzir novos autores e temas. A oferta fica menos diversa e perde atratividade, o leitor descobre menos livros. Minha aposta é na autorregulamentação do mercado para sanar os desequilíbrios o mais rápido possível.

[21/01/2025 08:00:00]