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As obras do autor têm leitores entusiasmados – artistas e intelectuais como Caetano Veloso, Liz Calder, Antonio Carlos Secchin, Raimundo Carrero e Paulo Henriques Britto – e Dissoluções tem um texto de apresentação de José Luís Peixoto, e quarta capa assinada por Aurora Fornoni Bernardini, professora da USP e autoridade em estudos literários. O livro será lançado em São Paulo no dia 18 de julho (quinta-feira), a partir das 19h, na Livraria da Travessa de Pinheiros (Rua dos Pinheiros, 513), com bate-papo do autor com o jornalista e curador Ubiratan Brasil.
Sobre o seu trabalho, Felipe Franco Munhoz respondeu a três perguntas do PN.
PublishNews – Boa parte de 'Dissoluções' foi escrita durante a residência artística na Art Omi: Writers (EUA). A partir de setembro, você vai integrar a Fall Residency do International Writing Program, vinculado à University of Iowa. Como essas residências te auxiliam no trabalho de escrita e qual o impacto delas na sua literatura?
Felipe Franco Munhoz – A Art Omi: Writers foi a primeira residência de que participei, entre março e abril de 2023, e foi uma experiência transformadora; tanto pelas condições ideais de tempo e espaço para o desenvolvimento da atividade literária quanto pelo convívio com outros escritores, de várias partes do mundo: cada um escrevendo a partir de sua própria perspectiva e dentro de seu próprio estilo – com muitas trocas de bagagens. O período na Art Omi, em relação a Dissoluções, funcionou para que eu entendesse qual era o livro exatamente, qual seria sua estrutura; tenho a sensação de que cheguei em Ghent, no interior de NY, com fragmentos e rascunhos e saí de lá com um livro mais definido. E há, da Art Omi, presentes em Dissoluções, pequenos lampejos (opacos para o leitor, naturalmente, mas inseri pequenas referências); e há, inclusive (e esse, sim, explícito), um núcleo do livro que se desenrola nos Estados Unidos: maior influência, impossível. O International Writing Program já parece ser uma história diferente; menos isolado, em Iowa City, e com uma agenda de compromissos mais intensa.
– Esse livro radicaliza a sua experiência com a linguagem, que já era uma característica sua nos outros trabalhos. Para você, o que significa esse mergulho profundo na forma da linguagem literária? Existe (se é que precisa existir) algum objetivo mais bem definido?
Literatura é arte de linguagem – e é por isso que tento explorar o máximo possível, em meus textos, o trabalho de linguagem. Mais do que isso, venho procurando fixar, livro a livro, uma voz autêntica. Minha proposta (para além de qualquer escolha temática, no ato da escrita) consite, portanto, sobretudo, em lapidar uma voz já definida, enquanto procuro expandir e transformar esse estilo: adequando o estilo, e aliando forma e conteúdo, aos desdobramentos específicos impostos pela eventual trama. Quando vou ao Masp, quero ver, no cavalete de vidro de Lina Bo Bardi, uma pintura com as característas das pinturas, digamos, de Hieronymous Bosch. A isso, em outro plano, aliam-se as escolhas temáticas; no caso de Dissoluções, optei por desenvolver dinâmicas de relacionamentos entre seres humanos no mundo contemporâneo; mundo imerso em tecnologias digitais, de resultados imediatos, mundo que chegou no limite da perspectiva de futuro, à beira da extinção. Meu objetivo é incrustar sangue detrás da tinta impressa, que desenha cada letra, e não teclar no computador com dedos, mas com facas, flechas, martelos.
– Além das viagens internacionais, você também tem um bom trânsito no circuito literário brasileiro. Uma ou duas gerações atrás, até era possível arriscar definições de grupos literários na literatura brasileira contemporânea (penso nas antologias). De lá para cá, até com o advento da presença maciça da internet, essa missão ficou mais difícil. De qualquer forma, você consegue identificar tendências na literatura brasileira contemporânea? Você se considera, por exemplo, parte de um grupo (unidos por questões estéticas, políticas, etc)?
É uma sorte, um privilégio, ter alguma interlocução com excelentes artistas da minha geração como, por exemplo, Carol Rodrigues, que vem acompanhando minha produção mais recente quase em tempo real; e com artistas de outras gerações como, por exemplo, Caetano Veloso, que leu a minha obra publicada, além de materiais inéditos. E acredito que seja uma característica minha, parte da personalidade, buscar intertextualidades e dialogar com pares (você mesmo, Guilherme, fez para o Estadão a matéria anunciando, em contexto pré-pandêmico, a estreia de uma banda de escritores); gosto de projetos colaborativos, multidirecionais – e se entro nesse tipo de projeto, quem já trabalhou comigo sabe, entro com total comprometimento. Em contraponto, não abro mão de ser um artista livre e autônomo para criar: sem pensar em tendências de mercado, sem fazer concessões; de certo modo, assim, condenado à solidão.

Felipe Franco Munhoz
160 pp | R$ 59,90
Ed. Record | Grupo Editorial Record