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Considerando as vendas ao mercado, o subsetor de Obras Gerais registrou, em 2023, um recuo nominal de 2,5%, e de 6,8% quando considerada a inflação. Ainda segundo os dados apresentados na Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, o segmento também se destaca pelo crescimento e domínio das Livrarias exclusivamente virtuais como o principal canal de distribuição e a aparição, pela primeira vez, do Site Próprio – Marketplace entre os top 5 canais com participação no faturamento. Além disso, o subsetor foi o que apresentou maior variação positiva no preço médio ao mercado: 10,7%.
Destaque na Pesquisa Produção e Vendas do ano ado, as Livrarias exclusivamente virtuais aumentaram ainda mais sua participação no faturamento, chegando à marca de 51,8%.
Segundo Mariana Bueno, economista e coordenadora de pesquisas econômicas e setoriais da Nielsen BookData, primeiro é preciso entender por que esse canal ganha importância e analisar as edições anteriores da pesquisa. “Nos resultados de 2020 e 2021, Supermercado e Clube do Livro estavam neste ranking. Clube do Livro fica de fora da lista dos resultados de 2022 e agora, nos resultados referentes a 2023, Supermercado deixa o ranking”, recorda. “Se por um lado há um indicativo de que o canal Site Próprio – Marketplace ganha força, por outro há um indicativo da redução de outros dois canais. Então é difícil dizer se há, de fato, uma tendência ou é apenas uma nova acomodação por conta da queda do grau de importância de outros canais”, analisa.

“É natural uma ampliação da relevância desses meios, considerando a grande redução do número de pontos de vendas disponíveis para livros de interesse geral nos últimos anos”, avalia Gerson Ramos, diretor comercial da Planeta. “Aliado a isso está não só a redução das livrarias fechadas – por conta do encerramento das duas redes (Cultura e Saraiva) – mas também porque as livrarias têm realizado uma diminuição de metragem das lojas e uma readequação do mix de produtos, deixando menos espaços disponíveis para exposição de livros”.
Pensando em uma acomodação nos canais de distribuição, vale a menção ao canal Feiras do Livro/Bienal, que – com um crescimento tímido – atingiu 1,7% entre os canais de mais importância. “As feiras têm oferecido oportunidades importantes, especialmente naquelas que tanto os Governos do Estado como do Município oferecem vales-compras para professores e alunos da rede pública”, recorda Gerson.
Já Flávia cita a facilidade do o aos livros e chama atenção para o ponto importante dos descontos. “Pelo que me lembro, na Feira da Unesp que aconteceu recentemente, os descontos valiam só na feira, para quem fosse presencialmente, e eu acho isso saudável. Por mais que restrinja o público, acho que é garantido que a pessoa tenha a oportunidade de compra, e também não vai concorrer com a livraria. As livrarias, por sua vez, também podem fazer suas promoções e ações. Acho que esse equilíbrio entre os eventos e o mercado mais tradicional das livrarias físicas é fundamental, mas a presença das editoras nesses eventos é bem relevante, pelo contato direto com o público e por apresentar uma visão mais total do catálogo", analisa.
Preço do livro
Mesmo com uma variação positiva de 10,7% em relação ao preço médio, é preciso analisar novamente a série histórica da pesquisa para entender o que o resultado significa.
Para se ter um exemplo, de 2006 a 2023, o preço médio de Obras Gerais apresenta queda de 29% em termos reais, sendo que de 2006 a 2015 o preço médio do subsetor registrava redução de 44% em termos reais. “Ainda que nos últimos anos o preço médio tenha apresentado reajuste em termos reais, ele ainda está distante daquele praticado no início da série”, explica Mariana Bueno.
“Vale notar que, de 2006 a 2023, o faturamento destas editoras apresentou queda de 40% em termos reais. O setor tem um tremendo desafio, pois não há grande expectativa de que possa existir um aumento significativo no número de exemplares vendidos e é difícil prever até quando o reajuste de preço será capaz de segurar uma queda ainda mais expressiva deste subsetor”, frisa.
Gerson aponta outro fator que representa um desafio para o setor do livro: a falta de investimento. “Um ponto que deixamos de lado muitas vezes ao analisar os problemas do mercado editorial é que o consumo de cultura, educação e informação em geral foi muito prejudicado nos últimos anos e em alguns casos, com a classe artística e professores – grandes consumidores de livros – sendo até perseguidos e difamados. Não há como pensar em uma retomada do consumo de livro e da leitura, para não falar da sua expansão, sem uma política de Estado para valorização da Cultura e da Educação, ou sem uma cobrança constante da sociedade para que essa valorização seja preservada”.
No gráfico a seguir é possível conferir com o orçamento da União com a Cultura sofreu nos últimos anos. “Se nos ativermos apenas ao Orçamento da União dedicado à Cultura, a queda é vertiginosa e sem dúvida isso teve impacto no consumo de livros de quem já era consumidor, isso para não falar da dificuldade em se formar novos leitores”, compartilha Gerson.

"Cabe a nós como profissionais buscar as melhores soluções para nossas empresas, tanto como cabe a cada um de nós como cidadão, exigir e lutar por uma verdadeira valorização da Cultura e da Educação de qualidade para nossa gente", provoca.